quinta-feira, 7 de agosto de 2025

PRECISA DE TEMAS? AQUI TEM 3 NARRATIVAS INVESTIGATIVAS PARA VOCÊ CRIAR

 

Investigadora Fran M. Albuquerque


TRÊS NARRATIVAS INVESTIGATIVAS COM  INVESTIGADORA FRAN ALBUQUERQUE


Desenvolva as investigações com base nas histórias abaixo:



1. A MULHER SEM MEMÓRIA 


Uma mulher adulta, com idade estimada entre 30 e 40 anos, foi localizada em estado de inconsciência à margem da rodovia BR-316, km 212, por volta das 5h40 da manhã. A vítima apresentava sinais claros de desorientação mental, sem qualquer documento de identificação, bolsa ou aparelho celular. O socorro foi acionado por um motorista que trafegava pelo trecho.

Durante o atendimento médico inicial, foram constatados hematomas nos braços e costas, além de um ferimento contuso na região temporal esquerda do crânio. O exame físico indicou que a lesão foi provocada por impacto direto com objeto rígido, compatível com um instrumento de madeira, ferro ou pedra. Possível trauma cranioencefálico. A equipe médica classificou o caso como potencial agressão.

A investigação ficou a cargo da inspetora Fran M. Albuquerque, especialista em crimes sem identificação. Fran iniciou a apuração com análise das imagens de segurança da praça de pedágio anterior, situada a cerca de 8 km do ponto de achado da vítima. O objetivo era localizar veículos suspeitos que trafegaram no intervalo de tempo compatível com a estimativa de abandono.

Simultaneamente, foi solicitado o cruzamento de dados com o sistema de reconhecimento facial nacional, utilizando as imagens da vítima capturadas no hospital sob protocolo legal. O banco de desaparecidos e registros civis foi acionado com prioridade.

Durante inspeção de campo, a inspetora identificou uma propriedade rural de pequeno porte — uma chácara a aproximadamente dois quilômetros do local. No portão de entrada, duas câmeras de vigilância foram avistadas. O proprietário foi contatado para liberação imediata das imagens das últimas 24 horas.

A linha de investigação, até o momento, considera três hipóteses principais:

  1. Agressão com tentativa de homicídio seguida de ocultação;

  2. Sequestro ou cárcere privado com fuga da vítima;

  3. Acidente com participação de terceiros e abandono.

Nenhum dado concreto sobre a identidade da mulher havia sido confirmado até o fechamento deste relatório preliminar. Inspetora Fran prossegue com diligências técnicas e mapeamento da área.



2. O SEQUESTRO


Na manhã de sexta-feira, Lígia Vasconcelos, 39 anos, deixou o filho, Felipe, de 12 anos, na escola por volta das 7h15. Após a saída, passou no supermercado e retornou para casa no Residencial Serra Verde, Zona Sul. Planejava organizar os preparativos da festa de aniversário do menino, marcada para o dia seguinte.

Às 10h42, o celular de Lígia tocou. A chamada, registrada como número privado, foi atendida na cozinha da residência.

A voz masculina, rouca e ameaçadora, se apresentou de forma direta:

“Você está sendo observada. Fique onde está. Não feche a janela.”

Sem pausa, o interlocutor alegou que havia sequestrado Felipe na entrada da escola e que, naquele momento, o garoto estaria trancado no porta-malas do veículo.

Lígia entrou em colapso emocional. Implorou, chorou, tentou negociar. Em vão.

“Se a polícia for envolvida ou se algo sair do meu plano, o seu filho morre. E vocês nunca mais vão encontrar o corpo. Depois, passo aí para cuidar de você e do seu marido.”

Desorientada e em estado de pânico, Lígia perguntou o que o criminoso queria. A resposta foi imediata:

“Simples. O saldo das aplicações de vocês. Já tenho acesso aos extratos. Dois milhões de reais. Agora. Vai ligar pro seu marido. Ele transfere tudo para a chave temporária: travessuras@gmail.com. Tem uma hora. E o seu filho, também.”

A ligação foi encerrada às 10h46. Nenhum outro contato foi feito em seguida.

O marido, Eduardo Vasconcelos, 45, gerente de tecnologia em uma empresa de médio porte, recebeu a chamada da esposa em prantos. Sem hesitar, realizou a transferência integral da quantia solicitada via PIX para a chave fornecida, sem questionar ou tentar contato com autoridades — temendo que qualquer atitude colocasse em risco a vida do filho.

Horas se passaram. Nenhum novo contato do sequestrador. Nenhuma exigência adicional. Nenhuma confirmação do suposto sequestro.

Às 17h58, o ônibus escolar buzinou em frente à residência. Para surpresa do casal, Felipe desceu normalmente, sorridente, acenando aos colegas. Não havia sido retirado da escola. Não houve qualquer interrupção em sua rotina diária.

O caso foi então classificado como “falso sequestro com extorsão mediante ameaça” e encaminhado à investigadora Fran M. Albuquerque, especialista em crimes digitais e extorsão financeira.

  • A chave travessuras@gmail.com foi identificada como conta temporária aberta com dados falsos e rota de IP mascarada via VPN estrangeira.

  • O telefone da vítima não apresentou rastros de GPS ativo do possível sequestrador, mas a gravação da chamada foi preservada e será submetida a análise de voz.

  • O casal foi orientado a não realizar novas movimentações financeiras.

  • A investigação avança agora com foco em engenharia social digital, possível vazamento bancário, e conexão com rede criminosa especializada em fraudes emocionais.



3. O SEGREDO DE JAQUELINE


Naquela tarde, Jaqueline saiu do trabalho mais apressada que o habitual. Tinha uma reunião marcada com dois advogados — algo sobre uma herança. Não lhe deram detalhes. Só disseram que ela constava como beneficiária de um testamento recente. Aquilo a intrigava. Herança de quem? Não reconhecia o nome mencionado. Mas decidiu comparecer.

— Hoje não posso esperar você — disse à colega da bancada. — Tenho um compromisso importante.

A amiga apenas acenou, e Jaqueline apertou o botão do elevador. Lá embaixo, já cruzando a calçada, algo lhe chamou a atenção. Próximo a uma mureta, entre uma árvore e a lixeira do prédio, estava uma valise preta, de couro legítimo, muito bem cuidada. Aparentava ser de alguém importante. Jaqueline olhou discretamente ao redor. Ninguém parecia procurá-la. Abriu-a com cautela. Dentro, uma carteira com um cartão de visitas, pastas com documentos organizados e... um nome: Gabriel Nogueira.

Teve o impulso de voltar ao prédio e deixar na portaria, mas o relógio não permitia. Já estava atrasada demais. Levou a valise consigo, decidida a localizar o dono depois da reunião.

O escritório de advocacia era discreto, num prédio comercial antigo. Às 18h32, Jaqueline foi recebida por dois advogados de fala precisa e expressão neutra. Ofereceram café, pediram que se sentasse e lhe entregaram uma pasta.

— O senhor Luiz Alberto Dias faleceu há duas semanas — disse um deles. — E deixou instruções claras no testamento: parte significativa de seus bens deve ser destinada a você.

— Mas… eu não conheço nenhum Luiz Alberto — respondeu, confusa.

— Ele a reconhecia como filha — o outro completou, folheando um papel timbrado.

A reunião terminou em poucos minutos com orientações para que assinasse os documentos. Jaqueline saiu do escritório com um misto de estranheza e inquietação. Tudo parecia um sonho, não parecia real.

De volta ao apartamento alugado na mesma rua em que trabalhava, Sua mente fervilhava em torno do que acontecera naquele escritório. Nem sabia ao certo de que bens eles falavam. Jaqueline respirou fundo e finalmente pesquisou o nome no cartão da valise. Gabriel Nogueira. Advogado criminalista. Escritório a poucos quarteirões dali. Ligou. A secretária atendeu, surpresa.

— Ele está procurando por essa pasta desde o início da tarde!

Marcou com ele no dia seguinte, para entregar pessoalmente.

Gabriel apareceu pontualmente. Era um homem de meia-idade, gentil, de fala firme, e olhar atento. Quando ela lhe entregou a pasta intacta, ele pareceu observar mais do que agradecer.

— Curioso como o destino age… — disse ele, pensativo. — Essa valise caiu em boas mãos.

Ela sorriu, sem entender completamente. Tomaram um café. Conversaram mais do que o necessário. Havia algo familiar naquele homem. Uma sintonia discreta.

Nas semanas seguintes, Gabriel e Jaqueline se encontraram outras vezes, se tornaram próximos. Descobriram afinidades improváveis, gostos semelhantes, visões parecidas sobre justiça e ética. Ela lhe contou sobre a herança. Ele ouviu em silêncio.

— Luiz Alberto Dias... — murmurou. — Não conheci pessoalmente, mas ouvi falar dele. Um empresário do ramo metalúrgico, um homem recluso. Muito inteligente.

Mas algo no olhar de Gabriel deixava transparecer que havia mais. Como se aquela valise tivesse sido esquecida propositalmente.

E com o tempo, Jaqueline começaria a desconfiar de que aquela herança não era apenas uma questão legal, mas uma ponte cuidadosamente arquitetada para revelar a verdade sobre seu passado.

E talvez, Gabriel soubesse mais do que dizia.

Jaqueline estava com medo. Contratou a investigadora  Fran M. Albuquerque para descobrir quem é seu pai, quem é Gabriel, quem é ela mesma...



_______________________________________________________________________________

Visite neste Blog:

RECURSOS LITERÁRIOS

NÃO DEMORE PARA MOSTRAR O CONFLITO DE SUA HISTÓRIA

DICAS PARA ESCREVER CORRETAMENTE


QUER INSPIRAÇÃO? BUSQUE À MESA DE REFEIÇÃO

 Almoços e jantares oferecem motes que merecem histórias. 



1. Uma vizinha que chega de repente, como quem não quer nada, e vai se aboletando à mesa, sem ter sido convidada...

2. Um parente que chega de viagem e você lhe oferece um almoço em família. Sua mãe faz a melhor feijoada de todos os tempos, mas o sujeito é vegetariano...

3. Um inseto pousa no prato principal, e...

4. Todos chegam para um jantar, porém,  a dona da casa os coloca à mesa e diz que não haverá jantar, mas ela tem uma revelação...

5. No restaurante, a conta chega e é muito alta...

6. Você convidou a namorada para um almoço de domingo em família, afinal seus pais querem muito conhecê-la, mas ela diz que namora com você e não com seus pais...

7. No restaurante, um garçom atrapalhado serve na sua mesa um prato caríssimo, e para o outro, o sanduíche que seria para você. Você pede para trocar? E se o outro não reclamar, e até apreciar o sanduíche?...

8. Você é convidado para um almoço numa fazenda. A estrada é ruim, e você demora para chegar. Está com muita fome. E quando chega o almoço é torresmo, farofa, língua de boi, fígado, arroz com testículos, miolo de boi, dobradinha etc...

9. Seu chefe mora numa mansão em condomínio de luxo. Ele convida uns poucos funcionários para almoçarem na casa dele. Você já pensa na piscina, "vou dar um mergulho!", na quadra de tênis, "vou mostrar aquela minha jogada". No entanto, para sua surpresa, não se trata de um churrasco ou algo assim. A mesa da sala de jantar está formalmente posta com toalha de linho azul marinho e guardanapos de tecido, um vaso de cristal ao centro enfeitado com flores frescas exalando um perfume suave,  todos os talheres dispostos ao lado dos pratos, copos e taças ordenadas. Há uma buffet de aperitivos finos, o garçom lhe serve um vinho.... e você está usando bermuda, camiseta de verão, boné, e tênis...


_______________________________________________________________________________

Visite neste Blog:

EXERCITE SUA ESCRITA - ASSIM TERMINA - ASSIM COMEÇA

FIGURAS DE LINGUAGEM PARA CONSULTAR

MARATONA LITERÁRIA

segunda-feira, 12 de maio de 2025

PONTO DE VISTA NARRATIVO - NARRATIVA NA TERCEIRA PESSOA





Ponto de vista em terceira pessoa


O autor narra uma história sobre os personagens e se refere a eles com os pronomes de terceira pessoa "ele/ela".

 

"Era muito cedo, estava frio e havia uma densa névoa abafando a manhã. Ele desceu correndo em direção ao ônibus que já se movimentava devagar. Havia ainda uma boa distância até a parada. Via-se que ele tinha as pernas trôpegas, a inclinação da rua parecia lhe favorecer mais velocidade. De repente ouviu-se o grito desesperado dele "Espere!" . Seus braços atordoados se articulavam no ar dando mais força ao seu pedido. O motorista não o via de onde estava. O ônibus partiu sem ele.

Era o fim para o pobre coitado. Estancou aos pedaços. Os olhos estavam confusos, e os lábios trêmulos. Logo as lágrimas desceram, e o sofrimento já era mais denso que a névoa daquele dia.".

 

Este tipo de narrativa pode ser um NARRADOR ONISCIENTE (onisciente significa “ciência de tudo”), ou seja, o tipo de narrador onisciente representa as narrativas em que o narrador conhece todos os detalhes da história, inclusive pode conhecer os pensamentos e emoções dos personagens.

 

NARRADOR ONISCIENTE - É o narrador mais poderoso, mais completo, mais usado nas histórias e romances e mais empregado na escrita criativa.


________________________

VEJA NESTE BLOG:

NARRATIVA NA SEGUNDA PESSOA

NARRATIVA NA PRIMEIRA PESSOA

DISPOSITIVOS LITERÁRIO - FERRAMENTAS PARA A ESCRITA CRIATIVA

PLOT TWIST

MARATONA LITERÁRIA - 30 DIAS DE HISTÓRIAS


PONTO DE VISTA NARRATIVO - SEGUNDA PESSOA

 

PONTO DE VISTA NARRATIVO

SEGUNDA PESSOA

 

"Você mente uma vez e percebe que acreditaram na sua falácia. Então, você mente de novo, e de novo. E aí, começa a divagar sobre viagens que nunca fez, sobre celebridades que não conhece, mas que jura terem se encontrado um dia, sobre sua falsa fortuna, e blá, blá, blá..."


Ponto de vista é a voz narrativa através da qual você conta uma história.

Ao escrever uma história, você deve decidir quem a contará e para quem.

A história pode ser contada por um personagem envolvido na narrativa ou de uma perspectiva que vê e conhece todos os personagens, mas não é um deles.

 

Ponto de vista de segunda pessoa


O ponto de vista em segunda pessoa é estruturado em torno do pronome "você". Esse processo não é tão comum na literatura. 

"Você mente uma vez e percebe que acreditaram na sua falácia. Então, você mente de novo, e de novo. E aí, começa a divagar sobre viagens que nunca fez, sobre celebridades que não conhece, mas que jura terem se encontrado um dia, sobre sua falsa fortuna, e blá, blá, blá...

A segunda pessoa pode permitir que você atraia seu leitor para a história e faça com que ele se sinta parte da ação porque o narrador está falando diretamente com ele. Escrever em segunda pessoa por qualquer extensão é um desafio e vai expandir suas habilidades de escrita.

Os contos de autoajuda ficam perfeitos na segunda pessoa.  Experimente.


___________________________________________________________________________


 OUTRAS PÁGINAS PODEM INTERESSAR:

PONTO DE VISTA NARRATIVO NA PRIMEIRA PESSOA

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

EMPREGO DE NUMERAIS NA NARRATIVA


PONTO DE VISTA NARRATIVO - HISTÓRIA NARRADA PRIMEIRA PESSOA

 

PONTO DE VISTA NARRATIVO

PRIMEIRA PESSOA

 

(Não tive como me safar, então fugi numa noite muito escura com a esquelética lua escondida entre as nuvens do outono. Eu corri a noite inteira pela mata fechada, por trilhas desconhecidas.  Minhas pernas tremiam, minha garganta áspera, o peito arfante me enfraquecia o ânimo.) 


Ponto de vista é a voz narrativa através da qual você conta uma história.

Ao escrever uma história, você deve decidir quem a contará e para quem.

A história pode ser contada por um personagem envolvido na narrativa ou de uma perspectiva que vê e conhece todos os personagens, mas não é um deles.

 

Ponto de vista de primeira pessoa

 

No ponto de vista de primeira pessoa, um dos personagens está narrando a história.

Isso geralmente é revelado pela própria construção da frase "eu" e depende de pronomes de primeira pessoa: 

"Não tive como me safar. Fugi numa noite muito escura com a esquelética lua escondida entre as nuvens do outono. Eu corri a noite inteira pela mata fechada, por trilhas desconhecidas.  Minhas pernas tremiam, minha garganta áspera tinha sede, o peito arfante me enfraquecia o ânimo"

Neste caso, o leitor reconhece que esse personagem está intimamente relacionado à ação da história - seja um personagem principal ou alguém próximo do protagonista.

A narrativa em primeira pessoa pode fornecer intimidade e um olhar mais profundo na mente de um personagem, mas também é limitada pelas habilidades perceptivas do personagem. No entanto, esse ponto de vista narrativo limita muito o relato interior dos personagens, eles narram o que sabem, apenas realidade sobre os passos da história.  Pode ser:

 

Narrador personagem protagonista

Narrador personagem observador

 

Na obra Memórias Póstumas e Brás Cubas, de Machado de Assis, o narrador é personagem protagonista

E, na obra Um Estudo em Vermelho, de Arthur Conan Doyle, o Sr. Watson é o personagem secundário da história, ou seja, é o narrador testemunha:




____________________________________________________

VISITE OUTRAS PÁGINAS QUE PODEM INTERESSAR:

Veja aqui PONTO DE VISTA NA SEGUNDA PESSOA

CONHEÇA OS DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

QUADRADO CRIATIVO AJUDA VOCÊ A BUSCAR INSPIRAÇÃO

A ROUPA NOVA DO REI - Hans Christian Andersen (1837)

 

A ROUPA NOVA DO REI

Hans Christian Andersen (1837)

 


Há muitos e muitos anos atrás, havia um rei tão apaixonado, mas tão apaixonado por roupas novas, que gastava com elas todo o dinheiro que possuía. Pouco se importava com seus soldados, com o teatro ou com os passeios pelos bosques, contanto que pudesse vestir novos trajes. E ele tinha mesmo um para cada hora do dia, tanto que, ao invés de se dizer dele o que se diz de qualquer rei: “O rei está ocupado com seus conselheiros”, por exemplo, dele se dizia sempre a mesma coisa: “0 rei está se vestindo”.

Na cidade em que vivia, a vida era muito alegre; todos os dias chegavam multidões de forasteiros para visitá-la, e, entre eles, certa ocasião, chegaram dois vigaristas. Sabendo do gosto do monarca, e tramando dar nele um golpe, fingiram-se de tecelões, e apresentaram-se no palácio dizendo-se capazes de tecer os tecidos mais maravilhosos do mundo. E não somente as cores e os desenhos de seus tecidos eram magníficos, mas também os trajes que faziam possuíam a qualidade especial de se tornar invisíveis para aqueles que não tivessem as qualidades necessárias para desempenhar suas funções e também para aqueles que fossem muito tolos e presunçosos.

“Devem ser trajes magníficos —pensou o rei. “E se eu vestisse um deles, poderia descobrir todos aqueles que em meu reino carecem das qualidades necessárias para desempenhar seus cargos. E também poderei distinguir os tolos dos inteligentes. “Sim, estou decidido a encomendar um desses trajes para mim!”

Entregou então a um dos tecelões uma grande soma em dinheiro como adiantamento, na expectativa de que assim os dois começassem imediatamente o trabalho. E foi o que aconteceu: depois de receberem uma grande quantidade de seda pura e fio de ouro, material que guardaram em seus alforjes, os dois vigaristas prepararam os teares e fingiram entregar-se ao trabalho de tecer, embora não houvesse um só fio nas lançadeiras.

“Gostaria de saber como vai o trabalho dos tecelões” —pensou um dia o rei. Todavia, temendo ser ele mesmo um tolo, ou alguém incapaz de exercer a função de rei, desistiu de ir pessoalmente e decidiu mandar outra pessoa em seu lugar. Todos os habitantes da cidade conheciam as maravilhosas qualidades do tecido em questão, e todos, também, desejavam saber, por esse meio, se seus vizinhos ou amigos era tolos. “Mandarei meu fiel primeiro ministro visitar os tecelões”— pensou o rei. “Será o mais capacitado para ver o tecido, pois é um homem muito hábil e ninguém cumpre seus deveres melhor do que ele”. E assim o bom e velho primeiro ministro dirigiu-se ao aposento em que os vigaristas trabalhavam nos teares completamente vazios. “Deus me proteja!” —pensou o ancião, e abrindo bem os olhos pensou “Mas eu não vejo nada!”

Os dois vigaristas, então, notando a expressão de espanto no rosto do velho, pedem-lhe que se aproxime e opine acerca do desenho e do colorido do tecido. Mostram-lhe o tear vazio e o pobre ministro, por mais que se esforçasse para ver, não conseguia enxergar coisa alguma, porque não havia nada para ver.

“Deus meu! —pensava. “Serei eu tão tolo assim?” E não querendo que ninguém soubesse de sua tolice e menos ainda que o julgasse incapaz de exercer a função de ministro, imediatamente respondeu: “É muito lindo! Que efeito encantador!!” E fitando o tear vazio através de seus óculos: “0 que mais me agrada são os desenhos e as maravilhosas cores que o compõem. Asseguro-lhes que direi ao rei o quanto gosto de seu trabalho!”

“Ficamos muito honrados em ouvir tais palavras de vossos lábios, senhor ministro” — replicaram os tecelões. E imediatamente começam a verbalmente descrever os detalhes do complicado desenho e das cores que o formavam. 0 ministro ouviu- os com a maior atenção, com a intenção de repetir essas palavras quando estivesse na presença do rei.

Percebendo que seu plano estava dando certo, os dois vigaristas pedem então mais dinheiro, mais seda e mais fio de ouro, para dar prosseguimento a seu trabalho. Porém, assim que recebem o solicitado, guardam-no como antes. Nem um só fio foi colocado no tear, embora eles fingissem continuar trabalhando apressadamente.

Passado algum tempo, o rei envia outro fiel cortesão para verificar o progresso do trabalho dos falsos tecelões e a fim de saber se eles demorariam muito para entregar o tecido. A este segundo enviado aconteceu a mesma coisa que com o primeiro: “Não acha que é uma fazenda maravilhosa?” —perguntaram os vigaristas, mostrando e explicando um desenho imaginário e um colorido não menos fantástico, que ninguém conseguia ver. “Sei que não sou tolo” —pensava o cortesão; “mas se não vejo o tecido, é porque não devo ser capaz de exercer minha função... Melhor pois não dar a perceber esse fato.”

E assim foi, até que o rei convencido de que ele próprio deveria ver o tal tecido enquanto ainda estivesse no tear, pediu que outros mais cortesãos, dentre os quais o primeiro ministro e o outro palaciano que haviam fingido ver o tecido, o acompanhassem em uma visita aos falsos tecelões. Chegando lá, viu que os dois vigaristas com o maior cuidado trabalhavam no tear vazio, e com grande compenetração. “É magnífico!” —exclamaram o primeiro ministro e o palaciano. “Digne-se Vossa Majestade a olhar o desenho. Que cores maravilhosas!” E apontavam para o tear vazio, pois não tinham dúvidas de que as outras pessoas viam o tecido. “Mas o que é isto?” —pensou o rei. “Não estou vendo nada! Isso é terrível! Serei um tolo? Não terei capacidade para ser rei? Certamente não poderia acontecer-me nada pior.” E assim pensando, exclama: “É realmente uma beleza esse tecido!” “E merece minha melhor aprovação.” E manifestava sua aprovação por meio de alguns gestos, enquanto olhava para o tear vazio, pois ninguém poderia supor que ele não estivesse vendo coisa alguma.

Por sua vez, todos os outros cortesãos olhavam e obviamente também não viam nada. Porém, como nenhum queria passar por tolo ou incapaz, todos fizeram coro às palavras de Sua Majestade. “É uma beleza!” --exclamavam. E aconselharam o rei a mandar fazer uma roupa com aquele tecido maravilhoso, e que a estreasse no grande desfile que se iria realizar daí a alguns dias.

Os elogios ao inexistente tecido corriam de boca em boca e toda a cidade estava curiosa e entusiasmada. E o rei condecorou os dois vigaristas com a ordem dos cavaleiros e concedeu-lhes o título de Cavaleiros Tecelões...

Na noite anterior ao desfile, os dois vigaristas, querendo que todos testemunhassem seu grande interesse em terminar a roupa do rei, passam a noite toda trabalhando, à luz de dezesseis velas. E fingem tirar a fazenda do tear, e cortá-la com enormes tesouras e costurá-la com agulhas sem linha de espécie alguma até finalmente dizer: “Já está pronto o traje do rei!!”

0 rei, então, acompanhado por seus mais nobres cortesãos, vai ao atelier dos vigaristas, e um deles, levantando um braço, como se segurasse uma peça de roupa, diz: “Aqui estão suas calças. Este é o colete!!! Veja, Vossa Majestade, aqui está o casaco!! Finalmente, dignai-vos a examinar o manto!! Estas peças pesam tanto quanto uma teia de aranha. Quem as usar mal sentirá o seu peso...”

E embora ninguém visse nada, todos fingiam ver, enquanto ouviam os vigaristas a descrever as roupas, porque todos temiam ser considerados tolos ou incapazes.

“Tirai agora vossas roupas, Majestade --disse um dos falsos tecelões-- e assim poderá experimentar a roupa nova na frente do espelho”. E o rei tirou a roupa que vestia e os impostores fingiram entregar-lhe peça por peça sucessivamente e a ajudá-lo a vestir cada uma delas. “Que bem assenta este traje em Sua Majestade!!!” “Como está elegante!!! Que desenho e que colorido! É uma roupa magnífica!”

“Estou pronto” – disse finalmente o rei, completamente nu. “Acham que esta roupa me assenta bem?” E novamente mirou-se no espelho, a fim de fingir que se admirava vestido com a roupa nova. E os camaristas, que deviam carregar o manto, inclinaram-se fingindo recolhê-lo do chão e logo começaram a andar com as mãos no ar, carregando nada, pois também eles não se atreviam a dizer que não viam coisa alguma. À frente o rei andava orgulhoso e todos os que o assistiam das ruas e das janelas, exclamavam: “Como está bem vestido o rei! Que cauda magnífica! A roupa assenta nele como uma luva!!!” Nunca na verdade a roupa do rei alcançara tanto sucesso!! Até que subitamente uma criança, do meio da multidão gritou: O rei está nu!!!

“Ouçam! Ouçam o que diz esta criança inocente!” --observou o pai a quantos o rodeavam. Imediatamente o povo começou a cochichar entre si. “0 rei está nu! O rei está nu!!” --começou a gritar o povo. E o rei ouvindo, fez um trejeito, pois sabia que aquelas palavras eram a expressão da verdade, mas pensou: “O desfile tem que continuar!!” E, assim, continuou mais impassível que nunca e os camaristas continuaram segurando a sua cauda invisível.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

CRIE PERSONAGENS INESQUECÍVEIS



Inspetor Clouseau

 CRIE PERSONAGENS INESQUECÍVEIS


Quer um protagonista forte e cativante? 

Então comece definindo suas características! 


DÊ A ELE PELO MENOS TRÊS 

CARACTERÍSTICAS DOMINANTES 

E PELO MENOS UMA CARACTERÍSTICA INVERSA:


São traços que conduzirão os feitos de seu protagonista, ou antagonista.


Por exemplo: Seu personagem é CORAJOSO, INTELIGENTE, E  RESPONSÁVEL.


No entanto, personagens muito certinhos nem sempre rendem boas histórias.


PERSONAGENS INCRÍVEIS 

NÃO 

PODEM SER PERFEITOS:


Ele precisa ter um conflito interno, uma fraqueza ou dilema que o tire do prumo: um passado obscuro, um poder que o assusta, um trauma de infância, insegurança, um vício, fanatismo, intolerância, senso de vingança, uma perda nunca esquecida...

Os personagens crescem no decorrer do enredo e de repente se colocam diante de situações que exigem escolhas. Muitas vezes, eles precisam usar de subterfúgios para "resolver" conflitos. 

Então, aquele protagonista CORAJOSO / INTELIGENTE / RESPONSÁVEL - também poderia ser um "JUSTICEIRO".


E aí, como é seu personagem? 


Conta nos comentários que tipo de dilema seu personagem tem.


Veja também: 

PLOT TWIST

A TEORIA DE ICEBERG - HEMINGWAY


PRECISA DE TEMAS? AQUI TEM 3 NARRATIVAS INVESTIGATIVAS PARA VOCÊ CRIAR

  Investigadora Fran M. Albuquerque TRÊS NARRATIVAS INVESTIGATIVAS COM  INVESTIGADORA FRAN ALBUQUERQUE Desenvolva as investigações com base ...