A importância do não-dito
Pense
no texto que mais marcou sua vida. Vamos lá, aquele que de alguma forma nunca
saiu de sua memória, de seu coração. Provavelmente você tenha pensado num texto
de ficção (e não em ensaios, resenhas, leis, entrevistas, etc). E mais
provavelmente ainda tenha pensado num romance, conto ou novela. Por quê? Porque
o bom texto literário tem o objetivo de permanecer para além de seu tempo, de
transformar o leitor, fazendo-o refletir sobre si e sobre o mundo. E o que
caracteriza esse texto literário que pode ser útil para a produção de todo e
qualquer texto criativo? O SUBTEXTO.
O
leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação
mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do
movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar
acima da água." Ernest Hemingway
“A
Literatura, como as demais formas de expressão artística, deve grande parte de
seu poder encantatório ao ocultamento e à sugestão, residindo sua força no
subtexto que é capaz de engendrar o autor." Cíntia Moscovich
“Você
sabe qual é a diferença entre o escritor e o jornalista? O jornalista se define
por aquilo que diz, e o escritor, por aquilo que cala." Elie Wiesel
O
subtexto (ou não dito, o que está nas entrelinhas) foi brilhantemente comparado
por Hemingway com o iceberg (imagem acima). O iceberg tem a maior parte de seu
volume submerso, fora de nossas vistas, e assim também o texto literário. Isso
também ocorre num bom filme, numa boa música.
Outra
analogia conhecida é a que faz Roland Barthes em O Prazer do Texto, quando
compara o texto literário com um strip-tease: "O lugar mais erótico de um
corpo não é lá onde o vestuário se entreabre? Na perversão (que é o regime do
prazer textual) não há “zonas erógenas” (expressão aliás bastante importuna); é
a intermitência, como o disse muito bem a psicanálise, que é erótica: a da pele
que cintilaentre duas peças (as calças e a malha), entre duas bordas (a camisa
entreaberta, a luva e a manga); é essa cintilação mesma que seduz, ou ainda:
encenação de um aparecimento-desaparecimento".
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